João era apenas uma
criança e observava os pais agricultores conversarem sobre as dificuldades
financeiras pelas quais passavam. Muito novo, ele realmente ainda não entendia
o que a expressão “estamos devendo até as calças” significava, mas, pelos
semblantes preocupados de seus pais, sabia que não era coisa boa. O ano tinha
sido de seca no verão e a safrinha que podia ser a salvação a geada, comum no
Sul do Brasil, levou. João aprendia desde cedo quão difícil era ser tão dependente
do clima.
Depois de dois anos
consecutivos de frustação de safra, os pais foram obrigados a vender o sítio,
pois não tinham de onde tirar dinheiro para pagar as dívidas. Da venda do sítio
quitaram seus compromissos e compraram uma casa na cidade. A vida na cidade
também não era fácil, embora com casa própria os pais de João ainda não tinham
com o que trabalhar. Ao crescer na cidade João se lembrava dos tempos no sítio,
embora muito sofrimento tenha passado ele e sua família eram mais felizes por
lá. Sem perspectiva na vida decidiram vender a casa e tentar mudar de rumo.
Povo trabalhador,
sedento e dedicado começou a pensar em voltar para o meio rural. O valor de
venda de sua casa não daria para comprar novamente o sítio que deles era
outrora. Decidiram partir para outra região que ainda estava sendo ocupada e no
início da exploração agrícola. Na época, destacava-se a região Centro Oeste do
Brasil, onde a tecnologia acabara de permitir a exploração de áreas com solos
ácidos e de baixa fertilidade natural. Como poucas pessoas tinham corragem de
mudar para lugares longícuos, a família conseguiu comprar uma propriedade rural
por um preço menor do que receberam pela casa. A história da família começou a
tomar outro rumo.
Com muito esforço
dos pais, João ingressou na Universidade. Fazendo Agronomia reestruturou as
atividades na propriedade, profissionalizou as atividades e desenvolveu o
negócio dos pais. Por um lado, o patrimônio da família aumentava e por outro a
preocupação e o trabalho também.
Distanciados de
problemas como a seca e a geada, no Sul, viram sua produtividade crescer por
muitos anos. Clima bem definido, com estação seca e chuvosa colaboraram para a
melhoria da qualidade de vida da família. Em um ano promissor, uma safra se
desenvolvia, quando inesperadamente a seca atingiu sua região e a primeira
quebra de safra ocorreu. Todos muito tristes, sentaram, conversaram, recordaram
das dificuldades que tinham passado na vida e se abraçaram, erguendo a cabeça e
entendendo que o risco é inerente ao negócio deles. Sabiam naquele momento,
olhando um para o outro, que o negócio deles é a céu aberto e que a união,
persistência, coragem e resiliência são os atributos que tinham os trazido de
volta à realidade que amavam e que deveriam continuar nesse caminho.
O campo está cada
dia mais empresarial, porém as qualidades das pessoas boas que existem nesse
ramo continuam as mesmas. Também existem muitas pessoas mesquinhas,
aproveitadoras e corruptas no campo, esse texto é dedicado às de caráter.
Muito interessante a história. É a realidade de muitos trabalhadores rurais, que apesar das dificuldades que surgem pelo caminho, não se desconectam de suas raízes!!!!
ResponderExcluirÂndria, esse espírito poderia contaminar toda a nação.
ExcluirAbraço.