terça-feira, 21 de março de 2017

As qualidades superam o risco


            João era apenas uma criança e observava os pais agricultores conversarem sobre as dificuldades financeiras pelas quais passavam. Muito novo, ele realmente ainda não entendia o que a expressão “estamos devendo até as calças” significava, mas, pelos semblantes preocupados de seus pais, sabia que não era coisa boa. O ano tinha sido de seca no verão e a safrinha que podia ser a salvação a geada, comum no Sul do Brasil, levou. João aprendia desde cedo quão difícil era ser tão dependente do clima.
            Depois de dois anos consecutivos de frustação de safra, os pais foram obrigados a vender o sítio, pois não tinham de onde tirar dinheiro para pagar as dívidas. Da venda do sítio quitaram seus compromissos e compraram uma casa na cidade. A vida na cidade também não era fácil, embora com casa própria os pais de João ainda não tinham com o que trabalhar. Ao crescer na cidade João se lembrava dos tempos no sítio, embora muito sofrimento tenha passado ele e sua família eram mais felizes por lá. Sem perspectiva na vida decidiram vender a casa e tentar mudar de rumo.
            Povo trabalhador, sedento e dedicado começou a pensar em voltar para o meio rural. O valor de venda de sua casa não daria para comprar novamente o sítio que deles era outrora. Decidiram partir para outra região que ainda estava sendo ocupada e no início da exploração agrícola. Na época, destacava-se a região Centro Oeste do Brasil, onde a tecnologia acabara de permitir a exploração de áreas com solos ácidos e de baixa fertilidade natural. Como poucas pessoas tinham corragem de mudar para lugares longícuos, a família conseguiu comprar uma propriedade rural por um preço menor do que receberam pela casa. A história da família começou a tomar outro rumo.
            Com muito esforço dos pais, João ingressou na Universidade. Fazendo Agronomia reestruturou as atividades na propriedade, profissionalizou as atividades e desenvolveu o negócio dos pais. Por um lado, o patrimônio da família aumentava e por outro a preocupação e o trabalho também.
            Distanciados de problemas como a seca e a geada, no Sul, viram sua produtividade crescer por muitos anos. Clima bem definido, com estação seca e chuvosa colaboraram para a melhoria da qualidade de vida da família. Em um ano promissor, uma safra se desenvolvia, quando inesperadamente a seca atingiu sua região e a primeira quebra de safra ocorreu. Todos muito tristes, sentaram, conversaram, recordaram das dificuldades que tinham passado na vida e se abraçaram, erguendo a cabeça e entendendo que o risco é inerente ao negócio deles. Sabiam naquele momento, olhando um para o outro, que o negócio deles é a céu aberto e que a união, persistência, coragem e resiliência são os atributos que tinham os trazido de volta à realidade que amavam e que deveriam continuar nesse caminho.

            O campo está cada dia mais empresarial, porém as qualidades das pessoas boas que existem nesse ramo continuam as mesmas. Também existem muitas pessoas mesquinhas, aproveitadoras e corruptas no campo, esse texto é dedicado às de caráter.

            

2 comentários:

  1. Muito interessante a história. É a realidade de muitos trabalhadores rurais, que apesar das dificuldades que surgem pelo caminho, não se desconectam de suas raízes!!!!

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    1. Ândria, esse espírito poderia contaminar toda a nação.

      Abraço.

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